Falar sobre a cidade de Fátima, que em 2022 vai comemorar 25 anos deverá ser o ponto de partida para debatermos o que queremos para 2047, ano em que se comemorarão os 50 anos da cidade. Muito há para fazer em e por Fátima. Dois dos eixos estruturantes a necessitarem urgentemente de serem requalificados são a Avenida João XXIII e a dita Avenida (que por enquanto pouco mais tem que o nome) Irmã Lúcia de Jesus. Obras complexas, com necessidade de apoios governamentais ou europeus, mas que são fundamentais para a nossa cidade.
Hoje em dia é senso comum que uma cidade não é só um espaço físico, é também um espaço social, onde há formas de estar diferentes, espaços de mobilidades heterogéneas e variadas onde se deve apostar na qualidade de vida. Por isso, há uma pergunta que deveríamos fazer à partida ‑ Em que medida a cidade de Fátima está adaptada para oferecer a quem cá vive e a quem nos visita um acolhimento inclusivo, sem barreiras, que permita a mobilidade a todo o tipo de deficiências?
Como sói dizer‑se nós temos uma visão muito automobilística de Fátima, exceptuando a Avenida D. José Alves Correia da Silva, que usamos para os nossos percursos pedestres. Normalmente não nos apercebemos das barreiras que dificultam a mobilidade em espaços públicos. Só quando passeamos com carrinhos de bebé ou quando a lei da vida nos traz as mazelas físicas próprias da idade é que começamos a sentir dificuldades nas acessibilidades dentro da cidade.
Em 2009, aquando da realização em Fátima do II Congresso Ibero‑Americano de Destinos Religiosos e do V Congresso Internacional de Cidades‑Santuário, identificaram‑se novos desafios para o futuro. Um dos temas principais foi o ordenamento urbano em cidades de turismo religioso, tendo‑se chegado à conclusão que mais do que a promoção é fundamental a qualificação do território e a qualidade da recepção dos que visitam o destino Fátima.
Uma cidade acessível é também uma cidade mais competitiva ao nível do turismo, que pode ajudar a combater a sazonalidade. A população sénior, a dita terceira idade, tem vindo a ganhar peso crescente e visibilidade económica. Temos assim, por um lado, mais pessoas com mobilidade reduzida e, por outro, com mais disponibilidade para viajar durante a época baixa, uma vez que já atingiu a idade da reforma.
Também por isso é urgente que se elaborem estratégias, com vista a que as futuras requalificações de ruas não contemplem só alcatrão e passeios simples, mas que haja uma preocupação na criação de percursos acessíveis a todos (nomeadamente no perímetro entre as Avenidas João XXIII e Beato Nuno), eliminando as barreiras físicas nos passeios e no acesso às passadeiras. Há que criar uma cidade de futuro, pensada também para as pessoas idosas, as que tenham de transportar malas/bagagens e ainda as famílias com crianças pequenas e carrinhos de bebé.
Outro aspecto importante a rever é o da sinalética dos percursos de acesso universal, que permitam às pessoas uma correcta orientação por toda a cidade de Fátima.
No já longínquo ano de 2007 realizou‑se na Lousã o I Congresso Nacional de Turismo Acessível onde foi apresentado o projecto “Lousã, Destino de Turismo Acessível” que pretendia «promover a melhoria da qualidade de vida dos habitantes locais e dos visitantes e incrementar o aparecimento de mais‑valias económicas apoiadas no direito ao lazer». É com este e outros exemplos que podemos (e devemos) construir o futuro da nossa cidade.
(continua)