No dia 25 de Abril de 1974, um locutor do Rádio Clube Português proferia
emocionado uma frase simbólica que retive até hoje: “ Estamos perante a manhã mais
clara dos últimos 48 anos”.
A democracia dava os primeiros passos e se hoje comemoramos Abril, muito
devemos aos homens, anónimos ou não, que lutaram pela tão sonhada liberdade. Eram
tempos de grandes políticos como Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral e
Álvaro Cunhal, entre outros. Sonhava-se com um Portugal melhor.
É por isso que comemorar esta data faz sentido.
Vivemos num mundo em que a felicidade social exige valores - esperança, fé,
convicções - cujas raízes são de essência espiritual. Mas também sabemos que não é
possível ser feliz em condições de pobreza e insegurança, de injustiça social e
horizontes acanhados. Um povo precisa de se sentir seguro de si próprio, orgulhoso do
país a que pertence, identificado e confiante com os políticos que escolheu.
A política não é uma viagem de recreio e de benesses, é algo muito sério
quando levada com honestidade, é um serviço que se presta à comunidade. Infelizmente
muitos dos que vão sair no dia 25 de Abril de cravo ao peito e com discursos ocos e de
circunstância são os que têm ajudado a destruir este país, aproximando-o dos perigosos
extremismos de direita e de esquerda.
Há cada vez mais uma fratura entre o «nós» e «eles». «Nós» são os que vivem
com um salário e uma reforma miserável em tempo de inflação galopante, enquanto o
«eles» são os que se servem do poder público como se fosse sua pertença pessoal. São
os boys, os que cresceram à sombra e protecção do partido e que chegaram a ministros e
secretários de estado sem nunca terem trabalhado em empresas privadas.
António Sérgio tinha uma frase lapidar referente aos ministros do salazarismo -
“o melhor do que não presta”. Acho que podemos adaptar esta frase para os tempos
presentes para “o pior do que não presta”.
Nunca tivemos um parlamento tão fraco, com figuras secundárias, sem grande
capacidade, nem reconhecimento público. Diz-se que os políticos não passam de
equilibristas. É pena que no nosso país alguns deles não passem de ilusionistas,
habituados a truques por dentro da manga. A degradação da justiça, a demora nos
grandes processos aos políticos e banqueiros, a falta de médicos de família, a falta de
atendimento de qualidade nos hospitais, a falta de lares da terceira idade, a completa
degradação da qualidade do ensino, a falta de transportes, a decadência da agricultura,
as demissões forçadas de cargos públicos por suspeita de corrupção, a autêntica
telenovela de baixo enredo, em que vale tudo para controlar os danos políticos na TAP
com a gestão negligente, a história das indemnizações, a irresponsabilidade dos boys
nomeados para ministros e secretários de estado, a promiscuidade de cargos de
nomeação familiar, etc, etc…
E temos um presidente da República que perante este cenário negro não demite o
governo porque António Costa inteligentemente acena com o perigo da extrema direita
ir para o poder. Quando ele é o verdadeiro culpado. Se os governantes governassem, se
não estivessem envolvidos em sucessivos escândalos, se em vez dos boys do partido
fossem escolhidas pessoas competentes, o Chega esvaziar-se-ia com um balão sem ar. E
já agora também o Bloco de Esquerda.
O chanceler alemão Bismark, num dos seus célebres discursos, comparou as
salsichas aos políticos. Dizia ele que o melhor mesmo é não saber como são feitas nem
umas nem outros. Infelizmente, os últimos casos políticos em Portugal têm revelado que
Bismark tinha razão.
Nasce-se pessoa, mas não se nasce democrata. Os valores não são condição
natural mas condição adquirida. E se calhar é esta mensagem que temos de transmitir
aos jovens, que é preciso lutarem por valores, que é preciso participarem civicamente,
que é preciso que ocupem os cargos políticos pessoas que sirvam o país em vez de se
servirem dele. E que se apercebam que são a nossa derradeira esperança na construção
do tal país democrático sonhado pelos que fizeram o 25 de Abril.