Faz neste mês de Fevereiro 82 anos que ocorreu a mais violenta tempestade a atingir Portugal desde que há registos. Veio do Atlântico e varreu o país de sudoeste para nordeste, com ventos violentíssimos que atingiram entre 130 a 150 quilómetros por hora. Provocou mais de cem mortos e um número indeterminado de feridos, deixando à sua passagem um desolador rasto de destruição.
Segundo a imprensa da época um terrível ciclone assolou o país, derrubando árvores, destelhando casas, provocando inundações e naufrágios, interrompendo comunicações e “causando pre‑ juízos que se não podem avaliar senão aproximadamente, mas que ascendem a muitos e muitos milhares de contos.”
Além das vítimas mortais, foram avultados os danos nas telecomunicações e em outras infra‑estruturas. As comunicações telegráficas e telefónicas com Lisboa ficaram interrompidas durante vários dias.
Também se assinalaram vários cortes nos caminhos‑de‑ferro, motivados por acidentes, alguns dos quais com vítimas mortais. A rede viária foi, também, afetada principalmente devido à queda de árvores. São, também, referidos cortes no fornecimento de eletricidade e graves prejuízos em fábricas, habitações e monumentos. Centenas de embarcações ter‑se‑ão afundado ou ficado com graves danos. Os jornais noticiaram o afundamento no estuário do Tejo de mais de 150 embarcações. Os estragos ao nível da floresta terão sido muito avultados. Centenas de milhares de árvores foram completamente arrancadas ou ficaram com graves danos.
No Pinhal de Leiria terão sido mais de 300 mil as árvores afetadas; em Abrantes referem‑se mais de 200 000 pés, em Nisa o total de árvores danificadas ascenderia a 375000, em Évora é referida a destruição de 10 mil eucaliptos. A avaliação dos danos causados pelo ciclone de 1941 atingiu a verba de 1 milhão de contos, o que representava na altura metade do orçamento nacional. Fazendo a atualização para os dias de hoje, esta tempestade teria causado cerca de 5 mil milhões de euros de prejuízos.
"Além das vítimas mortais, foram avultados os danos nas telecomunicações e em outras infra‑estruturas"
O nosso concelho também sentiu os efeitos desta intempérie. A primeira página do Noticias de Ourém de 23 de Fevereiro relatava que “a noite de sábado, 15, foi um horror. O bramido dos elementos, uivo gigantesco e arripiante, durante horas consecutivas atemorizou os menos assustadiços. Telhados que voavam, muros que ruiam, árvores seculares que desabavam, com‑ pletavam o quadro nunca até aqui observado de destruição e ruína. (…) Para qualquer dos lados onde se encaminhem os passos o aspecto de desolação é idêntico. (…) Nas freguesias de Freixianda, Seiça, Atouguia, Olival, etc, onde existem grandes massas de pinhais, os estragos atingiram proporções incalculáveis.” Em Fátima, “muitos telhados e beirais ficaram danificados. As chaminés voaram em grande número. O maior prejuízo foi em árvores (oliveiras e pinheiros) que o vento derrubou em poucos minutos.”
Segundo o repórter J. J. Pereira “para implorar a protecção de Deus ante a fúria devastadora do temporal e implorar a salvação de tantos que lá fora derramam o seu sangue, evitar a que a guerra continue e que de vez este flagelo termine a bem do mundo (estávamos em plena Segunda Grande Guerra), realizaram‑se nos dias de Carnaval, preces públicas, como a Devoção das Quarenta Horas na Igreja Paroquial, saindo a procissão de penitência do Santuário até Fátima. Pregou o Rev.° Carreira, que está dirigindo no Santuário o Retiro dos Servitas. A adoração terminou já tarde, assistindo centenas de pessoas.”