Vivemos tempos novos. Tempos que nos obrigaram a mudar as nossas vidas, que nos obrigaram a questionar muitas das nossas prioridades, muitos dos nossos sentimentos. Sem afectos nem abraços aos que nos são queridos. E a falta que nos faz esta proximidade física. No fundo, o abraço é uma longa conversa sem palavras. Sem darmos conta, os nossos modelos de desenvolvimento alteraram-se. Obrigaram-nos a olhar para profissões que estavam relegadas para uma segunda linha desde que a informática tomou conta do mundo. Com espanto descobrimos, impotentes, que a nossa qualidade de vida está nas mãos de rostos humanos das “velhas” profissões ligadas à saúde, à educação…
Por cá, a maioria dos hotéis, a restauração e o comércio fechados podem dar uma imagem um pouco desoladora desta nossa Fátima. Contudo, um olhar mais atento permite sentir o pulsar da nossa gente. Há um sentimento de esperança, um acreditar que é possível refazer a vida num amanhã próximo. E um arregaçar de mangas na procura de saídas para a crise.
Com as obras da Estrada da Loureira em bom ritmo (o que é um bom sinal) e a ciclovia da Ortiga praticamente acabada, o empreendedorismo dos fatimenses vai-se manifestando. Como diz e bem o presidente do FTT, Ricardo Gonçalves, na sua entrevista ao Jornal de Leiria “temos vias, um parque hoteleiro fantástico”, pelo que a criação de um centro de trail serve às mil maravilhas para os amantes dos percursos da natureza. Este grupo de jovens pôs mãos à obra e o resultado está à vista. São cada vez mais as pessoas que percorrem este novo circuito juntando o exercício físico à descoberta dos antigos caminhos da nossa freguesia. É de louvar esta iniciativa que, espera-se, tenha agora o devido reconhecimento da Junta de Freguesia ao nível da criação de apoios físicos e da sinalética.
Vivemos também tempos de esperança cristã. A celebração da Semana Santa é o tempo mais importante e simbólico da vivência cristã. Como afirma o reitor Carlos Cabecinhas, a celebração da Páscoa «vem reforçar a esperança e a confiança nestes tempos conturbados». Adaptados aos novos tempos, a paróquia teve a feliz iniciativa de levar a toda a freguesia o Senhor dos Passos, no Domingo de Ramos. Já o Santuário vai transmitir todas as celebrações da Semana Santa e Páscoa “online”, devido à impossibilidade de muitos peregrinos se deslocarem à Cova da Iria.
Como salientou numa das suas últimas homilias o Papa Francisco, «para muitos, é uma Páscoa de solidão, vivida entre lutos e tantos incómodos que a pandemia está causando, desde os sofrimentos físicos até aos problemas económicos.» E mais acrescenta que esta epidemia não nos privou apenas dos afectos, «mas também da possibilidade de recorrer pessoalmente à consolação que brota dos Sacramentos». Mas esta é também a altura em que a Igreja nos dá um exemplo para os dias de hoje, nos apresenta o Homem, a existência humana na sua figura limite, na sua fraqueza, dor e impotência. O Ecce Homo no início da via sacra, a Sexta Feira Santa sem a qual não há nenhum “renascimento” na manhã de Páscoa.
E se, como afirma o Principezinho de Saint Exupéry, «o que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em algum lugar», temos de acreditar no exemplo pascal, de continuar com fé a procurar o “poço de água” que nos permita sair do deserto e vencer esta pandemia.