Notícias de Fátima
Sociedade Religião Lazer Educação Desporto Política Opinião Entrevistas Como Colaborar Contactos úteis Agenda Paróquia de Fátima Ofertas de Emprego
PUB

Miguel Ferreira

21 de outubro, 2022

A vaquinha

Certo dia, enquanto caminhavam, um mestre e o seu discípulo foram abordados por um jovem pedinte:

- Por favor, podem ajudar-me!?A minha família é muito grande e só temos uma vaca para o nosso sustento. Mal conseguimos dinheiro para comer! – disse o rapaz.

O mestre ignorou o pobre e continuou a caminhar. Indignado, o discípulo perguntou:

- Mestre, podia ter ajudado aquela pobre alma, porque é que não o fez?!

- Por vezes, o melhor gesto que podemos ter é desvalorizar a situação! – exclamou o sábio.

- Mas, aquele rapaz está claramente necessitado. Negar-lhe a ajuda de que ele precisa é cruel! – contrariou o discípulo.

- Escuta, meu rapaz! Queres mesmo ajudar aquele jovem e a sua família!? – perguntou o mestre.

- Claro que sim! – retorquiu entusiasticamente o aprendiz.

- A melhor coisa que podes fazer é matar-lhes a vaca. 

- Não acredito, mestre! Como é óbvio, nunca faria tal coisa!

- Confia no que te digo! Retirares a vaca da vida daquela família é o melhor auxílio que lhes podes prestar.

O discípulo, algo relutante, decidiu seguir o conselho do mestre e, durante a noite, foi à casa do jovem pedinte e matou a vaca. 

De regresso ao acampamento onde se encontrava o mestre, o jovem irrompeu num pranto e, soluçando, disse:

- Mestre, eu não compreendo como é que a morte da vaca pode ser a melhor solução.

Aquela família vai morrer à fome. Por favor, ajude-me! Ilumine-me! Preciso de me livrar desta culpa!

- Meu rapaz, a única maneira de compreenderes o objectivo desta lição e ficares descansado, é visitares a família daqui a cinco anos. Nessa altura, tudo te fará sentido. 

Passados cinco anos, tal como o mestre pedira, o discípulo voltou àquele local e, em vez da pequena casa de família, encontrou uma grande mansão. Ao longe viu um jovem que parecia viver em prosperidade. À medida que se aproximava, automaticamente, percebeu que se tratava do pedinte que encontrara há cinco anos atrás.

- Bom dia, caro senhor! Passei por aqui há cinco anos e este local era muito simples.

Existia apenas uma pequena casa. Que é feito da família que nela habitava? – perguntou o discípulo surpreendido.

- A família de que fala é a minha! Nessa altura, alguém matou a nossa única vaca. Diante das dificuldades, fomos obrigados a encontrar outras formas de subsistência.  Então, começámos a cultivar a terra e a fazer criação de outros animais. No início, não  foi fácil! Mas, com o tempo, fomos aprendendo, melhorámos e agora, como pode ver, estamos melhor do que nunca.

- Não guarda ressentimentos?!

- Confesso que, durante algum tempo, tive um ódio profundo à pessoa que me matou a vaca. Contudo, hoje percebo que tal uma bênção. O empurrão de que precisava para evoluir. Se não me tivessem matado a vaca, nunca teria aprendido a cultivar e continuaria em situação precária com a minha família. 

- É muito bom ver-vos a prosperar desta forma.

Depois da conversa, o discípulo seguiu o seu caminho com o coração inundado de felicidade. Finalmente, estava em paz com a sua consciência, pois aquilo que na altura lhe pareceu um acto cruel, acabou por transformar-se numa dádiva a longo prazo.

Últimas Opiniões de Miguel Ferreira