Poderá não ser muito inteligente pensar que situações difíceis, que nos causaram grande sofrimento emocional, irão ser resolvidas apenas com o passar do tempo. O “tapar o sol com a peneira” poderá não ser suficiente.
Se o problema ou o trauma não se ultrapassa ou resolve com o passar do tempo, o sofrimento dificilmente cessará, e terá consequência na forma como se vive o dia-a-dia.
As experiências dolorosas exigem uma “digestão activa”, ou seja, compreendê-las completamente e influir sobre a marca que deixaram na forma como vivemos o presente, sendo a causa de muitas complicações. É comum o mau humor torna-se crónico, o sistema imunológico enfraquece, e para manter a concentração requer-se um grande esforço. Um mal-estar permanece e não consegue identificar a fonte do mesmo. Deixo-vos aqui alguns dos principais sinais que revelam que há algo que necessita ser resolvido no seu passado.
Sem dúvida, um dos sinais mais comuns de sofrimento não resolvido. Há uma irritação constante, sem paciência e sem tolerância. Fica com raiva de qualquer coisa e tornam-se frequentes discussões ou conflitos com os outros. Também são comuns as explosões violentas. “Estou mal e a culpa é de alguém...”. Este pensamento é permanente e por si só leva a que não seja resolvido o problema de origem.
Tipicamente, é difícil ver algo de bom nos que o rodeiam, e só vê os seus defeitos (os outros parecem chatos, indignos de atenção ou francamente insuportáveis). Desta forma, os relacionamentos mudam, existindo um conflito entre estar com alguém e estar sozinho, prevalecendo, “mais vale sozinho do que mal-acompanhado”, para além de que, como não estou bem, também não quero que me veja assim. Esta espiral torna-se cada vez mais desorganizadora e quanto mais me afundo, pior me sinto.
Neste sinal, não se refere apenas à aparência externa, mas a todos os detalhes que compõem a rotina. Os horários dedicados às refeições, tornam-se aleatórios. Também em relação ao descanso, ou dorme muito ou não consegue dormir. Os seus hábitos normais sofrem um grande descontrole.
A desesperança é o sentimento de ter uma orientação, prevalecendo que no futuro nada mudará, independentemente do que fizermos. Pensa no futuro e apenas surge uma repetição eterna do mesmo, não havendointeresse nem entusiasmo pelo que está por vir.
Quando mantido por muito,pode gerar a sensação de que está prestes a perder a cabeça ou acabar com tudo. Chegar a esse ponto significa que precisamos de ajuda.
Neste sentido, sofrimento emocional não resolvido, a mente prevalece a projectar medos ou apreensões irracionais, tornando-se muitas vezes obsessivo. Por exemplo, começa a acreditar que algo de mau está a acontecer no seu corpo e começa a rever, constantemente, todas as acções e escolhas que faz no seu dia. Ainda que essa necessidade de verificação (compulsão), possa dar uma segurança imediata, a pessoa começa a ficar prisioneira das suas próprias obsessões.
Um sentimento de cansaço constante, tanto no plano físico quanto no mental, poderá estar relacionado com um sofrimento emocional não resolvido. Assim, a falta de vitalidade significa, também, uma vida mais sedentária, usando o tempo livre, apenas para ficar em casa a ver TV ou a dormir uma sesta.
Um sofrimento acumulado poderá também diminuir a libido e o desejo sexual, não só o interesse em ter relações sexuais propriamente ditas, mas também o interesse em acariciar e ser acariciado. Em seduzir e ser seduzido. Ou seja, com a ausência de desejo, uma fonte de prazer também desaparece, e aactividade sexual, que antes dava cor à vida e até fortalecia os laços com o parceiro, deixa de ser compensatória, justamente num momento em que a pessoa mais precisa de apoio. Assim, a empatia torna-se mais difícil quando é mais necessária.
Concluindo, estes sinais podem significar que há um sofrimento emocional não resolvido, que naturalmente está ligado ao passado, com razões conscientes e muitas vezes inconscientes. Em qualquer das hipóteses, estará numa situação que exige ajuda profissional. Permita-se e dê a si mesmo essa possibilidade.
“Se não está nas suas mãos mudar uma situação que lhe causa dor, poderá sempre escolher a atitude com a qual quer enfrentar esse sofrimento”. Viktor Frankl
Bem hajam,
Miguel Ferreira