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Miguel Ferreira

23 de outubro, 2020

Tempo de adaptação

Nos tempos que correm, a adaptação é inevitável, aliás, o ciclo da vida é ele próprio uma adaptação/mudança, o que por vezes faz com que a nossa experiência do dia-a-dia seja mais ou menos boa ou não, dependendo da realização daquilo que é importante para cada um de nós.


Como muito poucas coisas estão sobre o nosso total controlo, somos diariamente submetidos as intempéries, que por vezes nos abalam profundamente, dependendo da nossa capacidade de adaptação à mudança.


Pessoas há que tudo fazem para que a vida lhes corra de feição, e não é que não tenham direito a lutar por isso, aliás, tenho exactamente defendido este aspecto nos artigos anteriores, a importância que é saber exactamente aquilo que se quer, quando e com quem. O problema surge quando por alguma razão a vida não lhes corre da maneira pretendida, simplesmente porque não tem que ser assim, da maneira como idealizaram.


Tal como Darwin menciona, subsiste a espécie que melhor responde às mudanças e para tal é preciso estar preparado, com uma boa capacidade de análise dos factores externos e sintomas internos, não se deixando levar por interpretações excessivamente dramáticas, nem por comédias exageradamente lunáticas, pois a experiência neste planeta é um “caos”, tudo pode acontecer e começam a haver cada vez mais pessoas a conseguirem viver bem nesse “caos” que é a vida… e se possível tirar partido disso.


Normalmente construímos um modelo do mundo com base nas nossas lógicas e necessidades, o que por vezes não é funcional, e aí temos um problema de ordem mental que poderá levar a desordens emocionais. Será de todo importante pôr em causa a nossa forma de interpretar a realidade, relativizando a nossa percepção do mundo, com a tal flexibilidade necessária para entender que as coisas nem sempre correm da maneira que desejamos e que podemos sempre persistir para que possamos realizar os nossos objectivos.


Tenho tido o prazer de constatar nestes últimos anos, por experiência própria e em contacto com inúmeros casos clínicos, em que a resistência à mudança é pois o principal factor que nos leva a desenvolver qualquer problema de ordem psicológica, e a propósito disto, lembro-me daquela história em que “o discípulo de um Filósofo Mestre foi ter com ele ao leito da sua morte, para se despedir e pudesse saber algo mais, e perguntou-lhe: Além de tudo o que me deste, pois fui discípulo de sorte, teus ensinamentos, tua sabedoria, que mais de ti poderei aprender? Então, o sábio abriu a sua boca, e perguntou: consegues ver a minha língua? Sim, Mestre! Consegues ver os meus dentes? - Não, Mestre! E foi assim que prosseguiu: Sabes porque os não vistes? Sabes porque dura a língua mais tempo? Porque esta é flexível, mole como a água, mutável como o vento. Os dentes, por sua vez, são duros… Com isto, nada mais te tenho a ensinar… vai pela vida, e não te esqueças de… Amar.” A palavra chave é pois o entusiasmo para perceber este facto da vida e a flexibilidade para aprender a viver neste mundo de interacções (in)constantes.


Espero com esta mensagem, passar de forma simples, a importância duma habilidade qualquer criança possui, e que nós por incorporarmos também essa idade, facilmente poderemos activa-la e reactiva-la nos outros.
“Não é a mais forte das espécies que sobrevive nem a mais inteligente, mas aquela que melhor responde às mudanças.” Charles Darwin


Bem hajam. Boas adaptações.

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