Apesar da sua envergadura, Os Miseráveis, de Vitor Hugo, tem tido uma recepção positiva na cultura europeia desde a sua concepção. Apesar de maior parte da sua fama se dever às adaptações musicais que ganham grande sucesso nos palcos e nos ecrãs, a história que demorou mais de uma década a escrever continua a ser um prazer para os amantes das grandes obras.
O seu tamanho pode intimidar qualquer leitor, mas é garantido que quem estiver à altura do desafio levará consigo companheiros para a vida. As suas personagens são surpreendentemente vívidas e detalhadas, com histórias únicas que se cruzam e divergem para dar vida a França durante um tumultuoso período de 17 anos que culmina com a Revolta de Paris em Junho de 1832.
Após 19 anos de cárcere, Jean Valjean encontra-se livre; o seu crime: o roubo de um pão. A um criminoso ninguém dá alçada sem ser o bispo Myriel, a quem chamam Monsieur Bienvenu, especialmente quando o criminoso se encontra inteiramente convencido de que a sua natureza é tem por essência a atrocidade. Já o bispo Myriel mantém a porta sempre aberta, pois acredita que o seu serviço para aqueles que mais precisam não pode ser confinado às horas do dia de trabalho. O que acontece quando alguém que se acha terrível é confrontado com a caridade extrema?
Desafiante, mas grandioso. Denso, mas impactante. É difícil explicar aos leitores a influência que uma obra enciclopédica como Os Miseráveis teve na modernidade. Vitor Hugo denunciou e, até certo ponto, continua a denunciar os abusos de poder que ainda hoje existem. A paisagem que pintou não é somente um momento parado no século XIX, em França, mas um lugar onde se entra, onde se conhece e reconhece personagens únicas com histórias maiores que a vida e do qual podemos sempre aprender um pouco mais sobre a compaixão.