Por entre os sentimentos mais comuns na maioria dos portugueses, atrevo-me a afirmar, encontra-se este: AMAR Fátima. E, claro, como justificação de tal facto, creio ser praticamente escusado explicar o quanto as aparições da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, contribuíram para isso. Todavia, do mesmo modo, e sob pena das tão previsíveis críticas – normalmente pouco construtivas – que alguém me há-de dirigir logo após a publicação deste artigo, também me atrevo aqui a declarar (pasme-se!) que este é o sentimento que menos preenche o coração de muitos – mas não de todos, felizmente! – dos habitantes da nossa freguesia: sim, dos fatimenses. Porquê? Porque o amor implica, normalmente, grandes sacrifícios e uma defesa constante do ser ou do objecto amado – neste caso, da cidade ou freguesia.
Fátima, em Portugal, desde 1917 e com um particular desenvolvimento nos últimos anos, tornou-se num incontestável centro internacional de peregrinação cristã-católica e, segundo os dados estatísticos (que, por norma, nem contemplam a totalidade dos visitantes), recebe uma média de 6 a 8 milhões de pessoas por ano – sejam elas turistas (puros) ou peregrinos (devotos). Estes números, se comparados com a média dos 12 mil habitantes da freguesia, tornam-se quase assustadores perante a dimensão da cidade e do seu entorno. Em suma: quase todos os de fora querem visitar Fátima, usufruir de Fátima e levar consigo um bocadinho de Fátima; mas, perante isso, as questões que se impõem são: e nós, os habitantes? E a cidade, propriamente dita: será que está efectivamente preparada e infraestruturada para isso? Será que os órgãos de poder local investem tendo em conta a dimensão real deste problema ou oportunidade?
Fátima não é só a famosa Cova da Iria – e presume-se que esse lugar é que constitui “a cidade”. Eu gostaria de evidenciar, e deixá-lo muito claro, é que a verdadeira freguesia são também os lugares bonitos de Aljustrel, Alveijar, Amoreira, Boleiros, Casal de Santa Maria, Casal Farto, Casalinho, Casa Velha, Charneca, Chã, Eira da Pedra, Fátima “Velha”, Gaiola, Giesteira, Lomba, Lombo d' Égua, Lameira, Maxieira, Montelo, Moimento, Moita Redonda, Ortiga, Pederneira, Pedreira, Poço de Soudo, Ramila, Vale de Cavalos, Vale de Porto, Valinho de Fátima… certo?
Quando se olha para o estado (degradante) de muitas estradas e passeios (ou da falta deles), para a gestão (vergonhosa) da iluminação pública, para a ausência (lastimável) de equipamentos, e para a distribuição geográfica (inenarrável) dos serviços públicos, fica pouco por acrescentar sobre a falta de amor que alguns têm pela terra onde nasceram ou escolheram viver.
É preciso exigir mais, muito mais.
É preciso AMAR Fátima!