Há uma pergunta que faço a mim mesmo todos os dias: será que o mundo realmente aprendeu alguma coisa com tudo o que se passou nos últimos tempos (a propósito da pandemia do coronavírus)? Eu, pessoalmente, estou convencido de que não. É um facto inquestionável de que fica sempre muito bem dizerem-se frases bonitas nas redes sociais, mostrarem-se (aparentes) bons sentimentos para com os demais e, sobretudo, andar a repetir-se aquela a lengalenga quase infantil que declara: “Vamos ficar todos bem!”. Enfim, fantasias. O que não ficou (nem fica) nada bem ou bonito foi o termos assistido às pessoas a atropelarem-se nas filas dos supermercados, aos gritos histéricos sobre quem é que tinha mais direito à última lata de conserva ou – imagine-se o nível de miséria do interior humano! – à última embalagem de papel higiénico.
Eu sei que os meus queridos leitores e leitoras sabem do que falo; não vale de todo a pena, nesta fase, ignorar o óbvio. Tudo isto, infelizmente, aconteceu.
A Humanidade vive mergulhada numa pandemia global na qual o coronavírus é apenas um dos pretextos para o debate público sobre quais os males do mundo. Mas quereis saber onde é que está a fonte de todo esse mal? Não, não é no malfadado vírus que nos assolou a vida durante meses – e, ao que parece, promete continuar a fazer das suas! A fonte do mal está no nosso próprio umbigo, para onde teimamos em continuar a olhar e a não querer dele desviar os nossos olhos.
Nós estamos a atravessar tempos de pandemia, sim: a pandemia da falta de amor ao próximo; a pandemia do crescente racismo e da xenofobia; a pandemia da discriminação social e da perseguição religiosa; a pandemia do excesso do nosso “eu” e da imensa falta do “outro”. Estas são as grandes, senão mesmo as maiores, pandemias da actualidade, e são também as pandemias mais mortíferas, das quais a comunicação social só se ocupa para provocar o escândalo e alcançar um aumento fácil e invariavelmente desprovido de mérito das suas audiências.
Urge uma mudança! Os comentadores televisivos que falam sempre de tudo e a propósito de tudo, mas sem dizer normalmente nada e a propósito de nada, dir-nos-ão aquela frase-feita: “É precisa uma verdadeira mudança de paradigma!”. Eu atrevo-me a dizer – sem querer competir ou trocar de posição com nosso querido Papa Francisco – que é preciso antes uma mudança de sentimentos nos corações dos homens e mulheres a fim de que se tornem todos “de boa vontade”.
A pandemia global em que estamos mergulhados só se vai vencer, na minha modesta opinião, pela caridade. Não pela “caridadezinha”, não pelos actos de aparente bondade, não pelos discursos bonitos e enternecedores ou pela dádiva de uma esmola casual. É precisa, agora e mais do que nunca, a verdadeira CARIDADE! É preciso sair à rua e sorrir para o outro, é preciso começar a falar para o outro, é preciso saber e questionar se falta algo ao outro, estar mais atento às necessidades do outro, ajudar o outro, colocar-se no papel do outro, no coração do outro.
Eu não acredito na frase do “vamos ficar todos bem”. Não, não vamos. Mas podemos ficar melhores, lá isso podemos. E podemos também vencer esta e todas as pandemias do mundo pela via mais bela e mais nobre que existe:
– Só podemos vencer pela CARIDADE!