No próximo dia 25 de Novembro, assinala-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Desde 1999, o dia é reservado à reflexão e consciencialização de todas as formas de violência que assombram as mulheres. Simultaneamente, há quem debata a sua necessidade e duvide da importância da data.
Comecemos pela infância. É chocante saber que, em 2021, num país desenvolvido e europeu, tenham sido diagnosticados 141 casos de mutilação genital feminina nos hospitais e centros de saúde portugueses. A primeira menção histórica à mutilação genital remonta a 25 a.C.; volvidos milhares de anos, actualmente continua iminente uma prática cultural que fere, castra e oprime a liberdade e a sexualidade das crianças vítimas na sua vida adulta.
E na fase adulta? Segundo dados do Governo, até ao terceiro trimestre deste ano (Setembro), já morreram 21 vítimas de violência doméstica - 20 mulheres e uma criança. Em 2021, no total, morreram 23. Em comparação com o período homólogo, já morreram, à mão dos seus agressores, mais mulheres este ano do que no ano anterior. Acrescento: até ao final do ano passado, Ourém era o concelho do Médio Tejo com mais casos de violência doméstica.
Vejamos: em cinco minutos, com uma breve pesquisa de dados, desmonta-se uma parcela de realidade das múltiplas formas de agressão vividas por meninas e mulheres em Portugal e pelo mundo fora. A dimensão do fenómeno expande-se - casamento infantil, tráfico humano, assédio sexual, violação, prostituição, entre outros -, e acompanha desde a infância até à morte, muitas vezes determinada por terceiros.
Haverá quem ache que é uma data simbólica e insignificante. Seremos assim tão egoístas? A nossa própria realidade não define realidades alheias e a violência é capaz de se mascarar em lugares, pessoas e moldes que, de tão nefastos, são impossíveis de imaginar. Enquanto a violência existir, é necessário persistir: pode haver apenas uma única vítima, mas é quanto basta para continuar esta luta.