No dia 2 de Março de 2020, a Ministra da Saúde anunciou os primeiros dois casos de COVID-19 no nosso país e a 11 de Março de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou pandemia. A partir daí, a nossa vida nunca mais foi a mesma.
Toda esta nova realidade nos obrigou a confinamento e distanciamento físico. O medo de contágio tornou-se evidente, da perda, da morte.
A sala de aula deu lugar à telescola, o teletrabalho foi privilegiado, sendo que muitos negócios não resistiram e fecharam portas. A máscara e álcool gel passaram a ser adereços do dia a dia e o futuro, um tanto incerto.
A verdade é que a necessidade de medidas de isolamento, juntamente com o medo inerente à doença e todos os desfechos que esta pode ter, para o próprio e para os seus mais queridos, é fonte de stress psicológico significativo. E, se por um lado poderá agravar doença psiquiátrica de base, poderá ser suficiente para reunir condições adversas e propicias a uma depressão ou distúrbio da ansiedade.
Os estudos já revelam isso mesmo, baseando-se em efeitos de pandemias anteriores e dados actuais, reforçando sempre que mais dados obviamente serão necessários para se concluir informação o mais válida e fidedigna possível. No entanto, a minha percepção em consulta, enquanto médica interna de Medicina Geral e Familiar, é que cada vez mais pessoas nos chegam a necessitar de ajuda e intervenção na área da saúde mental e as queixas são semelhantes, a história repete-se e começa sempre com o mesmo discurso: “Desde que a pandemia começou…”. Ora porque estão isolados, ora porque estão sobrecarregados com trabalho e crianças ou idosos a cargo, ora porque não têm apoio e não conseguem abstrair-se com outras actividades que antes faziam parte da vida diária, ora porque os medos são uma constante. O “sufoco”. A dor no peito. A tristeza. A “pouca” vontade…
O término do discurso também é muito semelhante entre doentes, com um: “Oh Dra, eu não sei porque me sinto assim. Mas a verdade é que sinto e preciso de ajuda.”. E esta iniciativa de pedir ajuda é extremamente importante. Devemos, sempre, pedir ajuda se acharmos que não estamos bem, seja a nível físico, como mental. Devemos, ainda, numa tentativa de ultrapassar as adversidades inerentes à pandemia, evitar a desinformação. Em vez disso, procurá-la em sites fidedignos como o site da Direcção Geral de Saúde (DGS)e da Organização Mundial de Saúde; falar com amigos, familiares e pessoas próximas, mesmo que através das tecnologias; respeitar as regras impostas pela DGS; não usar o tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções e reconhecer as próprias capacidades para lidar com o stress. Podemos e devemos recordar estratégias que usamos noutras alturas de stress e que foram eficazes e colocá-las em prática. Aconselho manter uma alimentação saudável e equilibrada, praticar exercício físico, meditação e exercícios de relaxamento, manter rotinas de sono e, se possível, fazer uma actividade que nos dê prazer.
Mesmo assim, por vezes ou muitas vezes, a prioridade parece ser sobreviver ao “caos” quando tudo parece estar do avesso e por isso a mensagem final será de que estaremos sempre ao dispor enquanto Médicos de Família para vos ajudar em situações de doença ou desajuste.
A partir de Março de 2020, a nossa vida nunca mais foi a mesma. Acredito que nunca mais será. Mas acredito também que há sempre um melhor a retirar de cada situação, por mais dura que seja!