A Organização Mundial de Saúde define saúde mental como: “um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe o seu próprio potencial, é capaz de lidar com o stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e de dar um contributo para a sua comunidade”. Bem-estar este, que durante os tempos de pandemia, é ameaçado por uma série de factores, com os quais os profissionais de saúde se deparam, nomeadamente a estigmatização por trabalhar com doentes com COVID-19. Quantas notícias já tão bem conhecemos sobre esta depreciação e até pedido para não voltar a casa por parte de vizinhos dos nossos “heróis” da saúde? Porquê? Porque o medo das pessoas fala mais alto, é inato do ser humano defender-se da ameaça. O problema? Os profissionais de saúde também são pessoas, também têm família e também precisam de conforto, especialmente depois de um dia de trabalho em restrição física de movimentação devido ao equipamento de protecção, também privados de beber ou ir à casa-de-banho quando necessário e quando vão, em intervalos específicos, necessitam de longos períodos para retirar o equipamento e desinfectar-se.
Para além do mencionado, estes necessitam de estar em constante estado de alerta e hiper-vigilância, pois estão no “campo de batalha”, onde tudo está a acontecer. É necessária uma adaptação a novas formas de trabalho e existe uma enorme frustração por nem sempre ser possível atender e resolver todos os problemas dos doentes e do próprio sistema de saúde. Há também muitas questões sobre esta doença de destaque do século XXI, para as quais não temos resposta e gostávamos tanto de ter; há a necessidade de uma constante actualização sobre esta infecção, para garantirmos os melhores cuidados, (sempre). No fundo, tudo se traduz numa maior demanda de trabalho, com maior número de doentes e muitas vezes diminuição dos recursos humanos, uma vez que os profissionais de saúde também são pessoas e também se infectam e ficam doentes. São os nossos heróis fragilizados. Isto implica menos tempo para comer, para dormir e para socializar de forma harmoniosa. Para além de que muitas vezes, por medo de transmissão da doença aos nossos familiares em consequência do trabalho executado, nos isolamos por prevenção. Mas esta prevenção, se por um lado nos deixa de consciência tranquila, pode ser avassaladora para a nossa saúde mental, tal como referi acima. Isto afecta o nosso bem-estar, deixamos de perceber o nosso potencial, tornamo-nos “muito pequenos” para o stress sufocante que ocupou uma grande parte da nossa vida e trabalhamos de forma produtiva, como se de um “robô se tratasse”. Mas até quando e por que preço? É muito difícil manter-se à superfície e respirar.
É de fácil percepção que todas as situações anteriormente descritas contribuem para o desequilíbrio não apenas do corpo, mas também da mente, com muitas dúvidas e receios, luto, excesso de trabalho que se alia fortemente ao cansaço, falta de uma boa alimentação e sono, sentimento de impotência e a responsabilidade do “mundo às costas.” Dar, sem repor, origina um défice. O que ninguém vê é que por detrás de uma máscara, está uma lágrima, um desabafo, uma expressão inconsolável. Porque quem cuida, precisa também de cuidados.