Ao pensar no tema para este texto, resolvi abordar um assunto que, como se costuma dizer, “tem pano para mangas”. Há tanto mais a dizer, para além das palavras contidas nestes parágrafos, mas ainda assim tentarei explanar de forma concreta e eficaz o meu raciocínio.
Vivemos, nos dias de hoje, a era de informação e, ao mesmo tempo, de desinformação. Nunca tivemos acesso tão facilitado e rápido a uma imensidão de conhecimento que, até há pouco tempo atrás, apenas as melhores bibliotecas do mundo teriam a capacidade de conter. Apenas com uns cliques, conseguimos aceder a documentos científicos, publicações prestigiadas e conteúdo escrito por especialistas que nos permite, de forma mais tranquila, obter informação acerca dos mais variados assuntos.
Mas, da mesma forma que a obtenção de informação está muito facilitada, a probabilidade de se disseminar informação errada e enganadora também é muito alta. É, ainda, um preço a pagar por toda esta evolução rápida.
Por essa razão, e apesar dos esforços de plataformas como o Facebook e a Google de reduzirem ao máximo a existência e proliferação de notícias falsas (as conhecidas fake news), ainda é nossa responsabilidade sabermos filtrar as notícias que nos vão chegando para garantirmos que, quando tomamos uma decisão, a tomamos na posse de toda a informação correta.
Um exemplo claro surge-nos na Alemanha. O Governo aprovou em Conselho de Ministros a aplicação de multas aos pais que decidam não vacinar os filhos contra o sarampo (notícia do Observador). Toda esta luta contra a vacinação surgiu de uma associação que foi criada, de forma errada, entre a vacinação e o autismo. Tendo sido criada esta associação errada, os pais começaram a optar por não vacinar os seus filhos com medo que pudessem desenvolver algumas alterações do espectro autista. E isso levou a que houvesse um ressurgimento de algumas doenças que, até então, estariam quase que eliminadas através da vacinação, como é o caso do sarampo. Se analisarmos a informação credível que temos ao nosso dispor, verificamos que não existe qualquer associação entre as duas situações acima relatadas. O que é certo é que por causa desta partilha de informação incorreta, vidas foram postas em risco sem qualquer necessidade. Esta mesma situação levou a que uma médica em Espanha tenha sido suspensa, durante um ano, de exercer a sua atividade profissional por promover a informação da ligação da vacinação com o autismo (notícia do El País). Ao consultarmos uma das melhores fontes de informação sobre saúde, em www.cochrane.org, verificamos um estudo (revisão) realizado com 14.7 milhões de pessoas que revela não existir qualquer relação entre a vacinação de crianças e o desenvolvimento de autismo.
Estas fake news são mais perigosas e tem mais impacto do que possamos achar à primeira vista. Neste caso, verificamos um impacto muito grande e sério na área da saúde, onde vidas são postas em risco por decisões tomadas baseadas em informações erradas. Mas há também situações que chegam a roçar o cómico e que derivam também deste fenómeno. Nos Estados Unidos, começou a divulgar-se a informação de que a Terra não seria uma esfera mas plana. Tal notícia desenvolveu-se e levou à criação da “Sociedade da Terra Plana” com acérrimos defensores de que o nosso planeta não tem o formato que nos é ensinado. Esta situação é, no mínimo, caricata.
Não devemos tomar decisões apenas porque achamos que sim. Não devemos adequar o que lemos (muitas das vezes proveniente de fontes duvidosas) às nossas próprias crenças e apenas porque nos convém.
Devemos ser criteriosos na escolha da informação que seguimos e ter sempre a capacidade de pormos em dúvida aquilo em que acreditamos. Só assim conseguimos evoluir no nosso conhecimento e só assim poderemos partilhar as notícias que realmente interessam.
Boas férias!