Sempre me questionei sobre as razões que levam as pessoas a partir. O que as impulsiona a soltar amarras, buscando novas paragens? Que estímulo(s) as impele(m) a abandonar o sentimento de conforto e segurança que por norma a vida familiar e o convívio comunitário, principalmente entre amigos, nos transmitem? A que força(s) se aliam para enfrentar o desconhecido e tudo aquilo que isso comporta: a solidão, o desconforto, a instabilidade, a insegurança?
Algo, porém, me parece seguro quanto ao momento da partida: enquanto uns procuram, outros fogem; provavelmente, a maioria faz as duas coisas em simultâneo. As motivações serão diversas e muitas vezes inconscientes, isto é, não terão o suporte de uma intelectualização racional e ponderada, resultarão antes de um mecanismo mental, mais ou menos elaborado consoante os casos, em que o acumular de situações e experiências faz germinar a urgência da partida.
Dir-me-ão por certo que é facílimo identificar as principais motivações para a emigração e a diáspora. Logo à cabeça o instinto de sobrevivência e de preservação da integridade individual, seja ela física ou mental, principalmente no caso daqueles que fogem. De igual forma, imediatamente pensamos na aspiração a uma vida melhor, em que o sustento pessoal e familiar seja assegurado sem tantos transtornos, em que a retribuição pelas agruras laborais seja mais justa. Trata-se também do desejo universal de escalar o caminho, tantas vezes íngreme, do reconhecimento social.
Acredito, contudo, que outros motivos, mais subliminares, influem de forma determinante na decisão final. Tratar-se-á de algo que se encontra guardado no mesmo baú dos sonhos eternamente adiados, dos segredos inconfessados e dos desejos jamais verbalizados. Seja como for, algo une todo e qualquer ser humano que opta por partir, independentemente da cor, do credo, da etnia e do estrato social: a urgência de mudar.