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Tomé Vieira

5 de junho, 2020

Vogando...

A Suíça é um país fascinante por várias razões. Desde a sua já proverbial neutralidade quando abordamos a política internacional, passando pela sua sui generis democracia federalista, em que a consulta popular directa é constante através do referendo, até à respetiva economia de mercado, diversificada e pujante como poucas, são várias as dimensões que colocam este país nos lugares cimeiros dos diversos rankings que habitualmente tentam medir o nível de desenvolvimento das nações. Tenho observado com bastante interesse estes diferentes aspectos do país, confirmando de forma progressiva que o prestígio granjeado é de inteira justiça.

 

Há, porém, um outro aspecto que quanto a mim é igualmente merecedor dos maiores encómios, pelo menos no que à Suíça francófona diz respeito. Falo da tolerância social. Sendo ainda um imberbe cidadão em terras helvéticas, por assim dizer, pois aqui resido há apenas ano e meio, já pude constatar por diversas ocasiões que os suíços têm um enorme respeito pelas escolhas individuais, seja a nível político ou religioso, tenha a ver com a orientação sexual ou com o estilo de vida, refira‑se à origem étnica ou racial.

 

Como prova disso mesmo, e embora não o possa afirmar com absoluta certeza, julgo que não será fácil encontrar outro país no mundo cujo estatuto de refugiado proporcione tamanha protecção económico‑social como aqui. Além do mais, são inúmeras as instituições que se dedicam aos mais desfavorecidos e desprotegidos, tanto em solo nacional como principalmente por esse mundo fora, que optaram por aqui se sedearem. Outro exemplo desta enraizada sensibilidade social é a cultura existente e extremamente generalizada de dádiva de bens aos outros.

 

Ainda há muito pouco tempo, numa das habituais deambulações pelas ruas circundantes do bairro onde resido, deparei‑me com uma autêntica discoteca encaixotada, com inúmeros discos de vinil e CD, incluindo uma aparelhagem e um gira‑discos, a um canto de um passeio, onde se encontrava um simples letreiro com a seguinte inscrição: “Gratuit, servez‑vous!”. Isto é extremamente comum, principalmente com roupa e mobiliário.

 

Também os livros circulam graciosamente, visto que não há praticamente praça ou rua de alguma dimensão que não tenha uma das típicas minibibliotecas de partilha, onde muitas pessoas optam por colocar igualmente outras coisas, como boiões de comida para bebés, enlatados, bebidas sem álcool, “tupperware” ou utensílios dos mais variados.

 

Claro que, aliás como acontece em qualquer país no mundo, há sempre pessoas que optam por viver à margem daquilo que podemos designar como uma situação regular de integração, pelas mais diversas razões. São pessoas que se recusam a ter um trabalho remunerado e vivem da generosidade ou das ajudas assistenciais.

 

Mesmo nestes casos extremos, a Suíça garante os direitos essenciais consagrados na Carta Universal dos Direitos
Humanos. Qualquer pessoa que assim o deseje ou necessite pode candidatar‑se a diversos subsídios que lhe asseguram os gastos com a casa, a alimentação, o vestuário e outros bens essenciais, com reforço significativo no caso dos agregados em que existam crianças.

 

Como é óbvio, a Suíça tem idiossincrasias menos agradáveis e está longe de ser um país perfeito, mas podemos afirmar com toda a segurança que é uma das nações do mundo que mais se aproximam desse ideal.

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