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Tomé Vieira

7 de janeiro, 2021

Vogando…

Um dos espectáculos mais vibrantes a que podemos assistir é simultaneamente o mais natural e acessível de todos. Apenas exige disponibilidade e sentidos apurados aos espectadores. Trata-se da maior produção jamais realizada à face da terra, entrando em cena diária e ininterruptamente em múltiplos palcos. Resulta de uma generosíssima produção da mãe Natureza, de cenários simultaneamente ínfimos e grandiosos, com sonoplastia suavemente enleante, e cujos protagonistas pertencem ao mundo vegetal e animal. Falo obviamente da inexorável passagem das estações do ano, que nos proporcionam um enredo ritmado e colorido, sempre surpreendente.

O momento que vivemos talvez represente uma oportunidade única para nos voltarmos a apaixonar por este clássico. Numa altura em que os excessos cosmopolitas se transmutam em fobias, quando os contactos se evitam e os confinamentos são impostos, mais uma vez são os espaços naturais que nos podem salvar, tanto a nível físico como psicológico. A máxima latina “mens sana in corpore sano” recupera o seu sentido primacial. Os nossos corpos balofos e preguiçosos anseiam por movimento, a nossa mente infectada por viroses várias grita por ar puro. E isto é transversal a todas as idades e estratos sócio-económicos.
Qualquer região do globo nos assegura uma saída destes problemas, garantindo-nos uma entrada gratuita para o espectáculo inicialmente apresentado. Haverá países onde os cenários têm sido mais descurados ou destruídos e outros onde o ser humano tem tentado interferir da forma o menos invasiva possível. Outras nações ainda, conscientes da inevitabilidade de intrusão humana em cenários tão sensíveis, tentam conjugar as manchas urbanas e os espaços verdes da forma o mais simbiótica possível. A Suíça pode ser incorporada neste último grupo. Os recursos disponibilizados para a protecção contínua dos espaços ao ar livre são impressionantes, tanto a nível público como privado. Em qualquer lado podemos encontrar recantos e jardins paradisíacos, cuidados com um desvelo apaixonado. Os bosques e florestas, de uma beleza cinematográfica, são permanentemente monitorizados, assim como os parques naturais. É reconfortante observar como são mantidos corredores verdes de ligação entre os bosques e as florestas espalhados pelo país, mesmo no interior das manchas urbanas mais densamente povoadas. Estes espaços, além de assegurarem a manutenção da biodiversidade local, tornam-se locais prazerosos para actividades de lazer ou desporto ao ar livre. As cores, os odores e os sons curam o corpo e deleitam a alma. A palete de cores, então, é de uma diversidade impressionante, assim como os matizes de verde. Estes são de tal profusão que o mais natural seria encontrar nos quatro idiomas suíços dezenas de palavras para designar todas essas variações, à semelhança do que fazem os esquimós com o branco, segundo reza a lenda.
Talvez tenha chegado a hora de pararmos um pouco a correria vertiginosa a que a vida hodierna nos habituou e serenarmos o nosso íntimo nos locais onde sabemos existir desde sempre.

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