Este artigo fugirá um pouco às temáticas habituais. Há um assunto demasiado importante para ser ignorado. Trata-se da corajosa luta que uma família de Famalicão tem protagonizado e que diz respeito a todas as famílias portuguesas. De facto, há já três anos que o Ministério da Educação (ME) tenta reprovar os dois jovens deste agregado familiar, alunos de Mérito da respectiva escola. O mais velho já está no Ensino Secundário, com média de 20, e o mais novo frequenta ainda o 3.º Ciclo, imitando o nível de excelência do irmão com média de 5, mesmo assim o ME tem tentado reprovar os dois alunos pela simples razão de os pais destes jovens não aceitarem que eles frequentem as aulas de Cidadania e Desenvolvimento (CD).
Esta disciplina foi introduzida para cumprir objectivos semelhantes àqueles que em tempos Formação Cívica preconizava, tal como Educação Moral e Religiosa Católica faz no ensino particular e cooperativo, isto é, um conjunto de objectivos que devemos enquadrar no âmbito da ética e da moralidade. Ora, a discussão deve ser correctamente enquadrada, pois estamos a falar de princípios básicos da nossa civilização. Será que queremos confiar ao Estado a esponsabilidade de educar as nossas crianças em termos ético-morais, algo que sempre foi das famílias? Deve ser o Estado o principal garante da ética e da moral, Estado esse que nuns momentos pode ser dirigido por pessoas íntegras, mas a qualquer momento pode ser tomado por pessoas de intenções perniciosas? O mesmo Estado que a todo o momento é envolvido em situações de conflito de interesses, de nepotismo e de corrupção? É este Estado que nos vai dizer como devemos educar os nossos filhos?
Quem ler os textos introdutórios do programa de CD pensará que se trata de algo inofensivo e até louvável, mas aquelas supostas boas intenções vão muito mais longe quando mergulhamos nas 2360 páginas dos documentos com orientações e propostas de aulas. Aí percebemos com muita clareza a real intenção daquela gente e que está muito longe de ser louvável. Só para amostra, transcrevo uma pérola que se encontra nesses documentos: «esta caracterização (…) dos homens e das mulheres em termos pessoais e sociais, a partir do conhecimento da sua categoria biológica de pertença (…) [é uma] visão dicotómica [sem] qualquer fundamento científico». Traduzindo, para estes iluminados não há qualquer problema em ignorar a existência de cromossomas X e Y, biologicamente diferentes, o que interessa é propagar os seus novos e delirantes dogmas. Esses documentos põem igualmente em causa a tradicional comemoração dos dias da Mãe e do Pai, assim como alertam os professores para a possibilidade de algumas propostas abrirem conflitos com os pais. Ou seja, a escola deixa de ser um local pacífico de transmissão de conhecimentos para se tornar o campo de batalha onde os ideólogos tentam entrincheirar professores e alunos contra pais e encarregados de educação. Querem simplesmente destruir o conceito de família à boa maneira soviética. Só lhes falta criar escolas de formatação ideológica como na ex-URSS, onde eram colocadas as crianças depois de serem roubadas às famílias.
Isto acontece porque o ME foi tomado de assalto pelos mesmos que ainda na semana passada comemoravam alegremente a revolução russa, que resultou num regime responsável por um dos maiores genocídios da História, traduzido em perseguição, tortura e morte, como os tristíssimos Gulags e Holodomor nos lembram. É a estes indivíduos que querem entregar a responsabilidade de educar os nossos jovens em termos éticos e morais?
Paradoxalmente, é a família Mesquita Guimarães que nos dá a resposta mais límpida. A sua resiliência é inspiradora e mostra-nos muito mais do que a inutilidade pseudo-moralizante daquela disciplina, deixando bem evidente o propósito ubjacente de formatar ideologicamente as novas gerações através da disciplina de CD. Da minha parte, apenas posso agradecer o exemplo desta família.