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Covid-19: Camionistas, sempre a circular para que nada falte #fiqueemcasa

Sociedade - 8 de abril, 2020
São indispensáveis, embora sejam pouco reconhecidos ou até mesmo esquecidos. Referimo­-nos aos camionistas, entre eles os de longo curso, que, apesar de todos os condicionalismos impostos pelo novo coronavírus, nomeadamente o fecho de fronteiras, continuam na estrada, para que nada nos falte na hora das compras.

Vítor Piedade, de 51 anos, é camionista de longo curso e “nunca” pensou passar por uma situação destas. Habituado a percorrer o caminho para França, Bélgica e Luxemburgo, Vítor mantém as mesmas rotinas, mas redobrou os cuidados, sobretudo no que diz respeito à higiene e segurança. “Muita precaução, muita lavagem de mãos, álcool, gel, distanciamento pessoal…”, descreve.

 

E desabafa: “A vida tem sido muito difícil, depois desta pandemia… Espero que passe depressa”. “Sinto falta de condições de higiene pessoal, falta de apoio da restauração, falta de convívio… Estamos muito isolados”.

 

A título de exemplo, aponta o fecho das casas de banho nas áreas de descanso. No seu entender, foi uma medida injusta. “Deviam estar abertas com regras, mas nunca fechadas. Somos seres humanos… Necessitamos das nossas condições básicas…”, defende, referindo que a sua “maior preocupação é a de não apanhar o vírus”, para não infectar os outros. “Apesar de ter, ou pensar que tenho, todas as condições para me proteger, tenho sempre receio que não seja o suficiente”.

 

A “maior preocupação” de Bruno Martins, outro camionista de longo curso, é a sua família. “A minha esposa encontra­ se numa fase muito especial, pois espera o meu primeiro filho”. Apesar de tomar todas as medidas de precaução, Bruno não se sente “tranquilo”, referindo nem os médicos nem os enfermeiros escapam à doença. “Nunca imaginei passar por uma situação destas”.

 

Além de usar máscara, desinfectantes e luvas, Bruno também abdicou da vida social. “É trabalho­ casa, casa ­trabalho”, refere o camionista, de 35 anos.

 

“Não existe manual para assumir a gestão nestes tempos” (Joel Reis)

 

“Não existe manual, guião ou qualquer outro meio de suporte para assumir a gestão nestes tempos”, responde Joel Reis, gestor da empresa de transporte de mercadorias de longo curso “Coelho Mariano”, quando lhe perguntamos se tem sido complicado gerir esta crise.

 

“Ficamos entregues à intuição e à capacidade de resistência”, explica, referindo que “felizmente temos dado resposta às solicitações com muita dificuldade, espírito de equipa, espírito de sacrifício e muito trabalho”.

 

De acordo com empresário, “a dificuldades maiores têm sido a falta de meios públicos ao dispor dos nossos motoristas por essas estradas fora, a falta de assistência 24h para a nossa frota em caso de necessidade, assim como todo um turbilhão de decretos, regras… e conciliar tudo isto entre todos os países em que operamos ­ cada um com as suas regras”.

 

A operar em vários países da Europa, a “Coelho Mariano” conta com cerca de 80% da frota na estrada. Quando começaram a surgir os primeiros sinais da pandemia, o primeiro instinto de Joel Reis foi “resguardar ao máximo” os funcionários e diminuir a actividade. No entanto, a necessidade de servir a população sobrepôs -se.

 

O gestor acredita que quando passar “o efeito do açambarcamento dos consumidores menos responsáveis”, a actividade vai começar a abrandar, mas refere que “é prematuro” fazer previsões.

 

Com cerca de 60 homens na estrada, Joel Reis adianta que não tem nenhum camionista em quarentena, mas já preparou um plano “para o caso do vírus nos bater à porta, o que esperamos muito que não suceda”.

 

Apesar de reconhecer que todas as profissões são importantes, Joel Reis considera que os camionistas deviam ser mais respeitados, “pois mais uma vez cá estão, e cá estamos, na linha da frente para tentar fazer face a esta verdadeira guerra do COVID­ 19”.

 

Para finalizar, perguntámos ao empresário como encara este momento: “Encaro­ o como um momento histórico que marcará para sempre a nossa geração. Deus queira que passe rápido e com o mínimo impacto possível”.

 

Na perspectiva de Joel Reis, “a sociedade vai voltar a apreciar a família, a amizade, a casa, o emprego, a liberdade…”.

 

Fotografias: Humberto Magro

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